Este artigo é para mães, pais e líderes que exigem muito de si mesmos. Por mais que saibamos que a perfeição não existe e que não é tão positiva quanto parecia antigamente, ainda carregamos elevados níveis de perfeccionismo em nossos papéis de mães, pais e líderes.
Conheci o termo "suficientemente boa" quando estava escrevendo minha dissertação de mestrado sobre autenticidade e minha supervisora fez uma analogia a uma dissertação suficientemente boa. Achei interessante o conceito e, de certa forma, libertador.
Mãe Suficientemente Boa
A abordagem Suficientemente Boa é derivada da noção de maternidade suficientemente boa de Donald Winnicott, um dos psicanalistas britânicos mais importantes do século 20. Ele é admirado pelas percepções profundas e sutis que trouxe para o desenvolvimento humano e, em particular, para o relacionamento entre mãe e filho. Para Winnicott, uma das habilidades centrais da mãe é sua capacidade de proporcionar um ambiente facilitador para que o verdadeiro eu da criança sobreviva e floresça.
O conceito de "mãe suficientemente boa" refere-se à mãe, pai ou cuidador primário que não é perfeito, mas que é suficientemente bom para atender às necessidades emocionais e de desenvolvimento de seu filho. Segundo Winnicott, uma mãe que tenta ser perfeita pode acabar prejudicando o desenvolvimento natural da criança. A mãe suficientemente boa, por outro lado, comete erros, mas é capaz de reconhecer e corrigir esses erros, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor onde a criança pode explorar e crescer.
Este ambiente facilitador permite que a criança desenvolva um senso de identidade autêntica e a capacidade de lidar com frustrações e desafios.
Winnicott também enfatiza que, quando uma criança nasce, uma mãe também nasce. Isso significa que a maternidade é um processo de aprendizado e crescimento tanto para a mãe quanto para o filho. A mãe suficientemente boa se desenvolve junto com a criança, aprendendo a equilibrar suas necessidades e a proporcionar um ambiente onde ambos podem crescer e se desenvolver.
Apego e Autenticidade
O psiquiatra Gabor Maté explica em seu livro "The Myth of Normal" que "nascemos com uma necessidade de apego e uma necessidade de autenticidade". A maioria das pessoas abandona seus verdadeiros eus (autenticidade) para agradar os outros e manter os relacionamentos (apegos), mesmo que sejam tóxicos e destrutivos.
Maté acredita que as crianças aprendem desde cedo que só são amadas quando fazem coisas que agradam aos pais. Isso leva a cortar partes de si mesmas para receber o amor de que precisam. "Se a escolha é entre 'esconder meus sentimentos, mesmo de mim, e obter o cuidado básico de que preciso' e 'ser eu mesmo e ficar sem,'" escreve Maté, "vou escolher a primeira opção todas as vezes. Assim, nossos verdadeiros eus são sacrificados pouco a pouco em uma transação trágica onde garantimos nossa sobrevivência física ou emocional ao renunciar quem somos e como nos sentimos."
Segundo Maté, essa tensão entre apego e autenticidade é algo que vamos enfrentar constantemente ao longo da vida. Reconhecer e equilibrar essa tensão é crucial para nosso bem-estar emocional e desenvolvimento pessoal.
Liderança Suficientemente Boa
Da mesma forma, um líder que tenta ser perfeito pode acabar prejudicando o desenvolvimento natural dos seus liderados. O líder suficientemente bom também comete erros, mas é capaz de reconhecer, aprender e corrigir esses erros. A vulnerabilidade, como abordada pela pesquisadora e autora Brené Brown, não só humaniza o líder, mas também cria um ambiente onde os membros da equipe se sentem seguros para serem autênticos e assumir riscos sem medo de julgamento. A vulnerabilidade promove uma cultura de confiança e transparência, essencial para o crescimento e desenvolvimento coletivo.
Os resultados de uma liderança perfeccionista podem ser infelizes. Tais comportamentos muitas vezes levam a equipes exaustas e desmotivadas e a culturas que desencorajam a responsabilidade e o desenvolvimento pessoal.
A Liderança Suficientemente Boa, por outro lado, tanto espera quanto promove a responsabilidade individual. Baseia-se no empoderamento, facilitação e colaboração, em vez do comando e controle.
Reflexão
Quando abordo algo como "suficientemente bom", sinto um alívio até no meu corpo, como se abrisse espaço e conseguisse até respirar melhor. Além disso, isso me ajuda a ser produtiva de uma maneira muito mais saudável. Por exemplo, se não pensasse neste artigo como "suficientemente bom", teria levado dias para escrevê-lo buscando sua perfeição, enquanto o ponto não é esse. O meu objetivo é simplesmente compartilhar ideias e provocar a reflexão. Adotar essa mentalidade permite um equilíbrio melhor e uma produtividade mais sustentável, tanto na vida pessoal quanto profissional.
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